5.7.09

Estudantes de Jornalismo protestam contra decisão do STF. Alunos e professores lotaram Plenário e pediram apoio aos Vereadores.

Durante a Sessão Ordinária desta quinta-feira (18.06.2009), estudantes e professores do curso de Jornalismo da Universidade de Caxias lotaram o Plenário e pediram apoio aos Vereadores em seu protesto contra a decisão do Supremo Tribunal Federal que instituiu a não obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. “Qual a ética para se preparar um peixe frito?”, criticou o Coordenador do curso, Professor Paulo Ribeiro.”Um dos Ministros chegou a comparar a prática do Jornalismo como uma atividade culinária, ou a prática do Corte e Costura. Com todo o respeito que merecem estas atividades, o Ministro não poderia estar julgando a sério. Hoje, não pode mais valer o velho argumento romântico de que o poeta, o bom escritor, também é um jornalista. Se o sujeito pensa que escreve bem, candidata-se para o desempenho de função. A formação acadêmica é fundamental sim! Além da técnica, do manejo com apuração, a escrita e a edição das notícias, há todo o aspecto ético específico da profissão. O exercício do jornalismo é uma prática delicada”, argumentou Ribeiro. O Presidente da Câmara Municipal Vereador Edio Elói Frizzo/PSB considerou a votação um retrocesso abominável. “O momento exige, sem dúvida, uma mobilização desta Casa”. “Qual é o efetivo interesse que existe nisso?”, questionou o Vereador Moisés Paese, argumentando que os Ministros confundiram manifestação esporádica de opinião com o profissional do jornalismo. A Vereadora Denise Pessôa/PT defendeu que a imprensa, considerada o Quarto Poder, é uma das profissões mais importantes existentes em nosso país e é um absurdo não se exigir curso superior para o seu exercício. “Esta decisão quer acabar com a profissão e isso é um absurdo. Esta profissão incomoda aqueles que querem varrer a verdade para baixo do tapete. Isto prova que não estamos mais vivendo em um país democrático”, defendeu o Vereador Renato Nunes/PRB. O Presidente da Comissão de Educação, Vereador Daniel Guerra/PSDB garantiu que o assunto estará na pauta da reunião da Comissão na próxima semana. Pronunciamento Completo Professor Paulo Ribeiro – Sessão do Dia 18.06.2009 O julgamento do Superior Tribunal Federal sobre o Recurso Extraordinário 511961, na quarta-feira, 17 de junho, que pedia o fim da obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão, soa absurdo. Um dos Ministros chegou a comparar a prática do Jornalismo como uma atividade culinária, ou a prática do Corte e Costura. Com todo o respeito que nos merecem estas atividades, o Ministro não poderia estar julgando sério. Qual a ética para se preparar um peixe frito? Contudo, deixando de lado este aspecto folclórico da argumentação, o que mais chama a atenção é que a função pública do jornalismo não foi discutida. Sim, porque antes de tudo o jornalismo deve atender ao compromisso com a verdade e ir ao encontro do apelo social de sua comunidade, não se deixando reger tão-somente pelas normas do mercado. Neste momento triste e delicado, é preciso que repensemos as dificuldades do Jornalismo face aos tantos interesses envolvidos em sua prática. São interesses econômicos, políticos, corporativos, que devem ser bem mediados pela boa atuação de profissionais sérios, éticos e com responsabilidade. Além disso, hoje, não pode mais valer o velho argumento romântico de que o poeta, o bom escritor, também é um jornalista. Se o sujeito pensa que escreve bem, candidata-se para o desempenho da função. Hoje, mais do que nunca, a perícia e habilidade técnica, adquiridas ao longo da formação universitária é o que vale para o mercado. Nenhuma empresa compromissada com a verdadeira função do jornalismo colocará um diletante a exercê-lo. Será contraproducente, será até mesmo temerário entregar o baixamento de um jornal, a edição de um programa de rádio ou tevê aos aventureiros da Comunicação. A formação acadêmica é fundamental, sim. Além da técnica, do manejo com a apuração, a escrita e a edição das notícias, há todo o aspecto ético específico da profissão. O exercício do jornalismo é uma prática delicada. No tribunal, se confundir liberdade de expressão como um patrimônio de foro íntimo e não público. A liberdade de expressão é apenas um dos elos que fazem do jornalismo uma atividade que lida com um patrimônio que, antes de ser comercial, é um patrimônio da sociedade. O direito à informação. E informação não subjugada, não manipulada. Como bem lembra o professor Ismar Capistrano C. Filho (ele é da Universidade Federal do Ceará, o que demonstra o inconformismo dos profissionais da área de todo o país), a decisão do tribunal precisaria ter atendido para o seguinte aspecto: a produção jornalística está submetida à lógica empresarial das indústrias culturais. Assim, duas éticas se confrontam nas redações: de um lado, o interesse público, defendido pelos jornalistas, e, de outro, o particular dos empresários, comprometidos com a gestão, a sustentabilidade, a audiência e o lucro do negócio. Neste contexto, a ética dos jornalistas possui um trunfo: a credibilidade de reconstruir as diversidades que compõem o real. E isto é, sem dúvida, o maior patrimônio de qualquer instituição jornalística. Publicar notícias que distorcem voluntariamente a realidade em beneficio do jogo de interesses pode comprometer o principal capital cultural dessas empresas, mesmo sendo, em muitos casos, sua principal rentabilidade. Assim, o jornalista deve se posicionar constantemente de maneira critica nas redações, questionando, resistindo e negociando a reconstrução da realidade apresentada por esses veículos. Sua ética se faz do constante confronto com estas múltiplas realidades. Jornalista conformado e acomodado em veículos comerciais — nos diz Capistrano - é indício de subserviência à ética empresarial. Desta maneira, não há dúvida, o profissional de Jornalismo precisa de uma profunda formação humanística. Ele precisa ter a compreensão do que seja público, o convívio social, a diversidade cultural e as relações democráticas. E a Universidade é o ambiente ideal para que se adquira tal formação e compromisso ético. Muito Obrigado.